De onde ela estava, observava aquilo que na verdade precisava ver...
Estava cansada e com um receio inexpugnável que nasceu dentro dela.
Sentia-se ameaçada pelas coisas mais simples e completas dos seus dias...
Quando saía, temia que seus passos a levassem para um lugar estranho, lugar onde seus gritos por socorro não seriam ouvidos e sua fé seria insignificante.
O problema dela não era de sair e conhecer um lugar novo.
Seus desespero não ultrapassava os limites do vagão.
Vagões íntimos de sua rotina como nenhum outro haveria de ser...
Porque durante todo seu percurso ela buscava respostas.
Ninguém além dela, ninguém além deles.
Suas dúvidas nunca eram concretas o suficiente para que pudessem alcançar uma resposta.
A fragância da sua vida não era mais um daqueles perfuminhos do O Boticário, o cheiro de freio queimado atingia-lhe as narinas de forma repugnante.
Aquela atmosfera que se constituía na ida a na volta e que se dissolvia facilmente, era abominável.
Os minutos de reflexão, de auto-conhecimento a feriam, agora...
Desejava com todas as suas forças que seu medo fosse exterminado, que o guarda florestal atirasse nele com a bala paralisadora e o abrisse ao meio, retirando de seu estômago fétido todos os seu sonhos, engolidos outrora, quando desacreditava neles.
Mas não sabia como acabar com ele, já que o abrigava, dava de comer, beber e uma cama quentinha...
Já não se sentia confortável no vagão.
Não adiantaria as portas abrirem, a coragem não fazia mais parte do seu ser.
A coragem de fazê-la ir atrás de algo melhor, qdo isso não era 100% garantido, havia comprado uma passagem só de ida pra algum lugar distante demais para que pudesse ser trazida de volta.
O vão entre o trem que oscilava e a plataforma fixa ainda existia.
O seu medo também.
Mesmo que lhe oferecessem a mão lá fora, ela ainda veria o vão.
Sua insegurança era absurda.
Dessa vez ela não estendeu a sua.
Olhou o vão novamente.
O alguém lá fora deu um passo a frente:
“Venha!”
Mas o vão ainda estava ali.
Ela ainda estava ali.
Deu um passo pra trás:
“Mas eu tenho medo.”
Quem estava disposto a ajudá-la percebeu que realmente o vão era grande.
Abaixou a mão.
Olhou para para o trem.
Olhou para ela, que olhava para baixo, mais afastada ainda.
Ele estava mto próximo do vão.
Sentiu medo também.
Alguns passos para trás.
E a distância entre eles era ainda maior.
Ela e a plataforma.
Ele e ela.
As mãos que não se encontraram.
Os medos que criaram distância.
A distância que criou mais distância.
E as portas se fecharam....
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